Parece loucura, mas estava na
praia no inverno. Uma das sensações mais estranhas e confortantes que já senti
na vida. Logo cedo ia para beira da praia caminhar sobre a areia gelada e mole,
onde os pés se afundavam com o decorrer do tempo que ficasse parado. Usava um
moletom preto com cheiro forte de mofo, pois estava guardado e ainda não havia
feito um frio tão intenso. Ao longe podia se ver o “Astro Rei” ou o vulgo sol
nascendo, e como um abraço de uma mãe seu calor me aquecia a cada instante que
subia aos céus onde as gaivotas cortavam os ares como um avião. E conforme ia se caminhando o som do coração
aos poucos tomava o ritmo das ondas e como se fosse uma orquestra formava uma
sinfonia perfeita.
O vento era suave, as arvores
balançavam como a rede de um pescador que estava a poucos metros de mim. Seu
cheiro era forte como a maresia, mas seu sorrio era tranquilo e me trouxe
harmonia. Perguntei se precisava de ajuda para lançar as redes ao mar, e com um
sorriso de orelha a orelha me disse que não poderia negar. Lançamos a rede como
se fosse um cruzamento para área pronto para fazer o gol, mas eram os peixes
que cairiam nas redes ao invés da bola. Perguntei se precisaria de algo mais, e
com a voz trêmula e alegre me disse apenas que era para eu voltar ao fim do
dia.
Era 17h 12min quando cheguei ao
local, onde ao longe nas dunas em um contraste com o mar se via o sol se pondo.
Uma das imagens mais lindas que vi em minha vida. O laranja se misturava com o
azul do céu formando uma verdadeira obra de arte que poderia ser exposta em
algum museu famoso. Logo observei vindo devagar o senhor com sua bicicleta
vermelha enferrujada. Chegou, encostou sua bicicleta e logo me chamou para
pegar a rede. Ia entrando no mar aos poucos pois a água estava gelada como uma
cerveja que tomei horas antes. Aos poucos o corpo ia se acostumando com aquela
temperatura, e não era uma situação tão incomoda. Puxamos as redes como se
tivéssemos feito um dos melhores trabalhos da vida, os peixes pulavam como se
estivessem uma escola de samba e a alegria foi tanta que caímos na gargalhada
pois era algo tão simples, mas tão real.
O sol já se espreitava pelas
arvores transmitindo apenas filetes de luz, e o que parecia ter sido apenas um
dia na praia no inverno se tornou os dos dias mais marcantes.
Higor
Stork, 09/05/2018
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